❝Quando o que é dorido se me ascende ao peito❞ é um soneto escrito por Wéverton Rodrigues que narra a recepção do choro enquanto materialidade dos sentimentos internos.
Quando o que é dorido se me ascende ao peito
Quando o que é dorido se me ascende ao peito
E enxergo, à frente, neblina densa ao rosto,
Sinto surgir à boca, de imediato, o gosto
Do sal que me é, porém, ainda insuspeito.
A lágrima reprimida me denuncia o jeito
De homem cerrado em si a ocupar o posto
De quem se auto-intitula-se o oposto
A revelar persona estranha ao sujeito.
É certo que fui o que agora já não sou.
Tanto que houve de mim e já cessou
Que só me resta a pele d‛um eu-futuro.
Se chamo pelo meu nome na noite escura,
Quem responde é senão o eco da loucura:
‛Na existência, és tão somente prematuro.′.
(Wéverton Rodrigues, 2024)