Crítica | Doutor Sono (2019)

Análise da obra de Mike Flanagan e sequência do clássico O Iluminado

Wéverton Rodrigues
927 Visualizações
Doutor Sono (2019)
Na infância, Danny Torrance sobreviveu a uma tentativa de homicídio por parte do pai, um escritor perturbado pelos espíritos malignos do Hotel Overlook. Já adulto, traumatizado e alcoólatra. Danny se estabelece em uma pequena cidade, onde consegue um emprego no hospital local. Sua paz, porém, está com os dias contados a partir de quando cria um vínculo telepático com Abra, uma menina com poderes tão fortes quanto aqueles que ele bloqueia dentro de si.

Ousadia e personalidade

Doutor Sono, sequência do clássico O Iluminado, de Stanley Kubrick, é um nova maneira de olhar para a dimensão psicológica que tornou a obra de 1980, estrelada por Jack Nicholson, Shelley Duvall e Danny Loyd, uma das grandes produções do gênero nas últimas décadas. A tarefa de dar continuidade a um trabalho que marcou época não é nada fácil. No entanto, coube ao talentoso e assertivo Mike Flanagan a árdua missão de contar a sequência da história de Jack Torrence (agora interpretado por Ewan McGregor), que lida com o alcoolismo e ainda está traumatizado depois dos eventos malignos ocorridos com a sua família no Hotel Overlook. E devo dizer que escalar o diretor das séries Maldição da Residência Hill, Maldição da Mansão Bly e Missa da Meia-Noite foi um grande acerto para a realização do projeto.

Sem querer soar pretensioso ou tentando abusar do chamado fan service somente para agradar o grande público através da nostalgia e do saudosismo, Flanagan faz um grande trabalho já na escolha dos atores para a execução dos papéis. Além de McGregor, que dá vida a Danny Torrence, Kyilegh Curran, que dá vida a Abra Stone, uma garotinha telepática que estabelece comunicação com Danny, e Rebecca Ferguson, a Rose the Hat, também fazem ótimos trabalhos no longa.

Talvez o maior mérito de Flanagan está em não se sustentar na obra de Kubrick, criando, portanto, um longa com méritos próprios, sobretudo quando insere o elemento da mágica e da telepatia já nas primeiras cenas da narrativa, despertando a curiosidade do público quanto ao que esperar na sequência, além de saber como usar adequadamente os elementos referenciais ao clássico. Por exemplo, acredito que inserir o Overlook apenas no terceiro ato, como elemento primordial para a sustentação do desfecho da história, foi uma escolha bastante acertada. Isso acontece porque o diretor constituiu uma nova história em relação à primeira parte e, em seguida, conseguiu explorar o sentimento nostálgico no público com a personalidade não-humana causadora de todo o conflito vivenciado na obra dos anos 80. A essa altura, Mike já convencera o público de ter conseguido desenvolver um trabalho com bastante autenticidade e com boas escolhas narrativas, mas ainda tendo à disposição da trama o elo entre as duas épocas, o que justifica ser, de fato, uma sequência do trabalho de Stanley.

Além disso, em relação ao desfecho, Flanagan fecha com chave de ouro ao hibridizar os dois longas trazendo as referências dos personagens que marcaram a história que se passou dentro o Overlook décadas antes. A cena final consegue dar uma dimensão mais humanizada à tragédia que está sendo narrada, mesmo que agora sob outra perspectiva, na qual o Danny adulto tem seu rosto tocado por sua mãe e, em seguida, na ocultação do personagem frente à câmera, surge a versão criança do personagem, como que na intenção de fazer menção ao início da triste história da família Torrence, mas, ainda, de explorar o sentimento de afetividade existente na relação entre mãe e filho, bruscamente interrompida, e também evocar (mesmo que minimamente) um certo senso de justiça ao ver que ele conseguiu sobreviver novamente no enfrentamento ao mal que reside na hospedagem.

Nota:  ⭐ ⭐ ⭐ ⭐

Trailer:

Ficha técnica

  • Título: Doctor Sleep (Original)
  • Ano produção: 2019
  • Diretor: Mike Flanagan
  • Estreia: 7 de Novembro de 2019 (Brasil)
  • Duração: 152 minutos
  • Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
  • Gênero: Fantasia/Mistério/Suspense/Terror

Artigos Literários

Deixar Comentário